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quarta-feira, 20 de março de 2019

DEIXAI TODA ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS!


                                         
                                                                     Canto III
                                                    A Porta do Inferno - Vestíbulo
                                                          Rio Aqueronte - Caronte


                                                 Por mim se vai à cidade dolente,
                                                Por mim se vai à eterna dor,
                                                Por mim se vai à perdida gente.

                                               Justiça moveu o meu alto criador,
                                              Que me fez com o divino poder,
                                              O saber supremo e o eterno amor.

                                             Antes de mim coisa alguma foi criada,
                                            Exceto coisas eternas, e eterna eu duro,
                                            Deixai toda esperança, vós que entrais!


      Eis o que te espera às portas do Inferno: o abandono da esperança. Aquela que sempre é a última a morrer, aqui, simplesmente deixa de existir. E faz sentido que assim o seja, afinal nada mais pode ser desejado. Nem submissão, nem redenção. A partir dali tudo o que se pode esperar é o pagamento de suas dívidas terrenas, cobradas com sofrimentos e torturas correspondentes ao seu pecado e seu nível de culpa. Esta é a definição do inferno de Dante Alighieri.

      Escrita no século XIV, a Divina Comédia possui 14,233 versos que marcam de forma enciclopédica  o conhecimento científico-filosófico da Idade Média. Nela temos narrada a passagem de Dante pelos 3 segmentos dos círculos que organizam a mecânica celeste: Inferno, Paraíso e Purgatório. Vamos nos limitar ao Inferno, que possui como característica de sua complexidade 9 círculos de punições:

1° Círculo - Limbo, destinado aos pagãos e não batizados. Sua punição é passar a eternidade sem ter a visão de Deus.

2° Círculo - Vale dos Ventos, onde Minus julga as confissões dos mortos e designa para qual círculo eles devem ir, de acordo com sua falta.

3° Círculo - Lago da Lama, destinado àqueles que sucumbiram ao pecado da Gula. Ficavam atolados em lama densa sob uma tempestade cortante, sem falar uns com os outros, enquanto são dilacerados por um enorme cão de 3 cabeças, Cérbero.

4° Círculo - A Colina da Rocha, destino dos avarentos, punidos com a tarefa de rolar grandes pesos, que representam suas riquezas e trocando injúrias um com o outro.

5° Círculo - Abriga os acusados de ira. Estes ficam amontoados em um lago formado de água e sangue borbulhante, batendo-se e torturando-se. No fundo do Estige, estão os rancorosos que não demonstram sua ira e permanecem proibidos de subir à superfície.

6° Círculo - Cemitério de Fogo, local reservado aos hereges. a punição é o sepultamento em túmulos abertos de onde sai fogo.

7° Círculo - Vale do Flegetonte, lugar destinado às pessoas violentas. Esse círculo é dividido em três vales:

No primeiro vale (Vale do Rio Flegetonte), estão as almas dos que foram violentos com o próximo. Aqui eles permanecem mergulhados em um rio de sangue dos que eles oprimiram. Na margem do rio ficam o Minotauro de Creta e centauros, que atiram setas nas almas que se erguem do sangue;

No segundo Vale (Vale da Floresta dos Suicidas), estão os que praticaram violência contra si mesmo. Esses se transforam em árvores sombrias e retorcidas; 

No terceiro vale (Vale do Deserto Abominável), estão os que praticaram violência contra Deus, contra a natureza e a arte. Estes são condenado a permanecer em um deserto de areia quente, onde chove fogo.


8° Círculo - Malebolge. Dividido em dez fossos, onde são punidos diversos pecados:

No primeiro fosso estão os rufiões e sedutores, açoitados continuamente pelos demônios, que os obrigam a cumprir os seus desejos;

No segundo estão os aduladores e lisonjeiros. Estes são imersos em fezes e esterco, que representa a sujeira que deixaram no mundo, resultado do proveito que tiravam dos medos e desejos dos outros e das falsas palavras proferidas; 

O terceiro é destino dos simoníacos, enterrados de cabeça pra baixo e com as pernas sendo queimadas; 

No quarto se encontram os adivinhos, que como punição tem suas cabeças voltadas para as costa, impossibilitando de olhar para frente;

No quinto fosso estão os corruptos, submergidos em um lago de piche fervente;

No sexto são punidos os hipócritas, estes vestidos em pesadas capas de chumbo dourado;

No sétimo estão os ladrões, que são picados por serpentes que os atravessam e desintegram;

No oitavo são castigados os maus conselheiros, aqui envolvidos por infinitas chamas, e padecem ardendo;

O nono fosso abriga os que semearam a discórdia e são esfaqueados e mutilados por demônios que lhes arrancam o que representa a discórdia semeada;

No décimo fosso, os falsários são punidos com úlceras fétidas e diversas enfermidades;

9° Círculo - Lago cócite, cujo pavimento é formado por gelo. É onde estão presos os traidores. Este círculo é dividido em quatro esferas:

A primeira esfera é a de Caína, onde são punidos os que traem seus parentes. Estes ficam apenas com o tórax e a cabeça de fora do gelo. O nome Caína faz referência a Caim que matou seu irmão Abel. 

Na segunda esfera, a esfera de Antenora, estão os que traíram sua pátria. Aqui apenas as cabeças ficam fora do gelo; 

Na terceira esfera, chamada esfera de Ptoloméia ou Toloméia, é onde os traidores de seus convidados são punidos, ficando apenas com o rosto exposto e quando choram, suas lágrimas congelam e cobrem seus olhos; 

A última esfera é chamada Judeca, seu nome faz referência ao traidor mais conhecido da história, Judas Iscariotes e é destino dos que traíram seus senhores e benfeitores, permanecendo completamente submersos no lago de gelo, conscientes. No meio da esfera está Lúcifer que com suas três cabeças prende de um lado Judas e do outro Brutus e Cássio, responsáveis pela morte de Júlio César.


Estes são os 9 círculos do inferno de Dante:

 
La mappa Dell'Inferno - Sandro Botticelli



      Você pode se perguntar: Mas o que isso tem a ver com satanismo? Bom, basicamente, tudo! É importante notar que a obra de Dante narra a história de um pecador que passa por todas essas dimensões de inferno, purgatório e paraíso e que ao final se converte a um crente em Deus. Como todos sabemos, esse é o estilo de Deus para conseguir fiéis: ameaçando. E é nesse medo das punições que se baseia todo o amor cristão em Deus. Simplesmente. O pensamento medieval era tomado pelo medo do desconhecido cotidianamente e esta posição era combatida principalmente através da fé representada pelo discurso religioso que se colocava na posição de conhecedor do sobrenatural, incluindo o pós-morte.

       Do Século XI ao Século XIII, o pós- morte era encarado pelo medievo como o momento da punição, o pagamento pelos pecados em vida, os castigos de seres monstruosos e o Diabo. Aliás, nesse período também se constrói uma imagem animalesca, bestial e amedrontadora de Lúcifer, colocando-o com unhas grandiosas, expressões tenebrosas e dentes horríveis contrapondo-se assim com a imagem de um anjo.

Para se aprofundar mais nessa visão medieval à respeito do Diabo, colocarei algumas indicações de leitura no final. Comentem ai qual círculo do inferno você estaria rsrs e não esqueça de deixar sugestões de temas para as próximas publicações.


Fontes: https://aminoapps.com/c/terroramino_pt/page/blog/demonologia-inferno-de-dante-vale-dos-ventos/2v5E_ZY4fNumwZXgg3dLkQLGDdMQgkq7nWR

https://laparola.com.br/o-inferno-de-dante-alighieri

https://artrianon.com/2017/04/28/os-nove-circulos-de-dante/

https://www.academia.edu/36641328/A_INSTITUI%C3%87%C3%83O_DO_INFERNO_MEDIEVAL


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