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sábado, 6 de abril de 2019

O PESO MAIS PESADO


Hail seus tinhosos o/

Neste post trago pra vocês alguns conceitos filosóficos que de certa forma influenciaram ou influenciam o meio satanista. Veremos aqui um pouco da Filosofia Nietzschiana que serve como essência e inspiração para o referencial satânico. Vamos lá?

Nietzsche e Satanismo


Não importa a cultura, não importa a era, o Mal sempre existiu, existe e existirá na história da humanidade e geralmente é atribuído a figuras nada agradáveis. Na nossa cultura ocidental, que possui raízes na tradição religiosa hebraica, sua maior representação é o Diabo. Mas antes esta definição não era tão simples de se ver, pois na religião hebraica nem sempre o mal tinha um personagem que o representasse, fazendo com que Deus (Jahveh) por vezes, fosse representado como tal, afinal se não fosse amado, castigaria o povo com pragas, guerras, misérias...

Mas analisando a doutrina de Zoroastro, que previa um dualismo constante entre o Bem e o Mal, começaram a duvidar que Deus poderia ser Mal e então criam Satã, o opositor, temido pelos homens e responsável pelas desgraças dos fiéis de Deus. E como sabemos, desde então a igreja usa da figura de Satã para provocar o medo nos fiéis, prometendo salvação e segurança do "Grande Mal". Com isso, inicia-se uma busca pela purificação da imagem de Deus. 

Ora, todos sabemos que o Deus do antigo testamento não é nada pacífico, nada amoroso e nem sempre justo como se diz. Muito pelo contrário, ele se apresenta como um ser vingativo e infantil. E esta descrição é lentamente desatribuída à ele e passa a ser a figura de Satã. Neste contexto surge em 1888 o livro O Anti Cristo - Maldição do Cristianismo de Friedrich Nietzsche, com críticas agudas ao cristianismo e à Igreja católica.

Neste livro, Nietzsche ataca principalmente os princípios cristãos que valorizam tudo aquilo que impede o homem de exercer e ampliar sua vontade de potência e de se reconhecer como um ser no mundo. Assim, a moral cristã representa, tão e somente, a decadência, tornando o homem domesticado, obediente, anestesiado, entupido de cultura, aferrado ao seu tempo. Mas estes homens, fracos e dependentes trariam à luz o Super-homem (não Clark Kent seu besta), um homem valente, impetuoso, ativo, vivaz.


O Niilismo surge desta predisposição do homem a não ir além de si e se estagna no tempo. Não quer criar, não reage, é escravo de seu estado de conservação. Neste sentido, o Super-homem é a negação dos valores vigentes, ousadia no lugar da segurança, auto-disciplina ao invés de auto-piedade, esquecimento no lugar de ressentimento. É conhecer a si mesmo, reconhecer sua força, tornar-se dono de si e de mais ninguém. Perceba como são similares aos ideais satanistas. A busca do auto-conhecimento, a rebeldia, o exercer de sua própria vontade.

As semelhanças com o pensamento satanista não se limitam ao inconformismo com a moral cristã e isso se torna evidente quando Nietzsche descreve as "virtudes" próprias da natureza humana, tais como: Orgulho, alegria, saúde, o prazer, a inimizade, os bons hábitos, o exercício da vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade do poder. Como viram no último post, todas essas virtudes são fundamentais no satanismo e são presentes em cada mandamento.

Um outro conceito filosófico marcante do pensamento nietzschiano que permeia os fundamentos satanistas é a ideia do Eterno Retorno. Pode ser que alguns percebam o paradoxo de Nietzsche falar de Eterno Retorno quando ele acreditava fortemente que nada era Eterno e nem tinha Retorno. E este é exatamente o ponto que ele pretende mostrar, então vamos conhecê-lo:


"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!" Não te lançarias ao chão e rangeria os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?" 
(A Gaia Ciência, Nietzsche, 2001, p.230).

A indagação que Nietzsche faz através do aforismo acima nos faz refletir que tudo vai e tudo retorna. Criação e destruição, alegria e tristeza, saúde e doença, bem e mal, feio e belo... e apesar de parecer, esses polos não se opões, mas se complementam, pois são face de uma mesma moeda, sentidos cada qual em um grau diferente e é impossível crescer sem experimentar os dois lados. 

Como eu disse, há uma contradição no Eterno Retorno. A vida não é eterna e com certeza você não retornará para uma segunda chance. Porém a provocação do aforismo nos traz uma afirmação da vida da qual somos os únicos responsáveis. Cabe a nós decidir se viver novamente as mesmas coisas seria uma benção ou uma maldição. E esta escolha é feita diariamente, em cada gesto, em cada pensamento, em cada postura que tomamos diante das situações que se apresentam. Cada instante pode ser definidor e é por isso que viver o hoje é tão importante. 

Somente fazendo essas escolhas, fortalecendo nosso Eu e criando nosso próprio destino, é que podemos nos libertar das amarras morais que nos são impostas, e os valores que envenenam a sociedade, sobretudo aqueles simbolizados na cruz. Esta é uma pequena amostra da importância de Nietzsche dentro do pensamento satanista, no qual é tido como uma fonte essencial de inspiração.

Abaixo estarei compartilhando uma bibliografia de Nietzsche sugerida pela Associação Portuguesa de Satanismo, na qual busquei bastante informação sobre este tema:


- 1883 - Assim Falava Zaratustra, I-II
- 1884 - Assim Falava Zaratustra, III
- 1885 - Assim Falava Zaratustra, IV
- 1888 - O Anticristo
- 1888 - Ecce Homo
- 1878 - Humano, Demasiado Humano
- 1879 - O Viajante e a Sua Sombra
- 1881 - Aurora
- 1886 - Para Além Do Bem e do Mal
- 1887 - Genealogia da Moral
- 1888 - O Crepúsculo dos Ídolos
- 1882 - A Gaia Ciência, I-IV
- 1887 - A Gaia Ciência, V
- 1873 - Considerações Intempestivas, I, "David Strauss"
- 1874 - Considerações Intempestivas, II, "Utilidade e Inconveniente dos Estudos Históricos"
- 1874 - Considerações Intempestivas, III, "Schopenhauer Educador"
- 1876 - Considerações Intempestivas, IV, "Richard Wagner"
- 1872 - A Origem da Tragédia
- 1888 - O Caso Wagner
- 1888 - Nietzsche Contra Wagner


Em conclusão, podemos confirmar a importância e relevância do pensamento nietzschiano para a doutrina satânica. Em primeiro lugar, pela oposição aos valores (não só religiosos, importante lembrar) que impedem o homem de seguir sua própria natureza, obrigando-o a fazer sacrifícios desnecessários enquanto deixa de viver como deveria. Segundo, Nietzsche destrói a visão transcendental cristã, que lhe diz que as privações aqui e agora te garantirão uma pós-vida de paz e cantos gregorianos relaxantes (talvez uma virgem ou 72 em algumas tradições), e nos mostra a necessidade de vivermos cada instante como se fosse único, e nesse processo nos conhecer e nos tornar donos de nós.

Para não deixar o post muito longo, vou ficando por aqui. Abaixo nas fontes deixo os sites em que busquei as informações e sugiro que visitem para ter uma ideia mais à fundo sobre a relação Nietzsche/Satanismo. Também quero indicar o site Biblioteca Nietzsche , no qual você pode encontrar bastante material sobre a vida do autor desde livros a teses acadêmicas. Espero que tenham gostado deste post e deixem seus comentários para retirarmos eventuais dúvidas. 
Até o próximo giro da ampulheta o/




Fontes: https://colunastortas.com.br/nietzsche-elevacao-do-homem-o-anticristo/

https://www.apsatanismo.org/Teoria/nietzsche.htm

http://www.eternoretorno.com/eterno-retorno-nietzsche/

NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo: maldição contra o cristianismo. Porto Alegre: L&PM,2012. p. 18.

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